Concat Gurias mostraram a 247 alunos da rede pública estadual que “computação é coisa de menina”.

De cada cinco calouros em cursos de computação nas universidades brasileiras em 2023, apenas um era mulher. É por isso que, quando a jovem Clara Giovana, de 18 anos de idade, fala animada em ingressar num tecnólogo em Segurança de Redes, o projeto de extensão Concat Gurias, do Departamento de Informática (Dinf), da Universidade Federal do Paraná (UFPR), foi bem-sucedido. A ideia é justamente atrair mais mulheres para o mundo da computação.

No último dia 8 de outubro, 15 estudantes da UFPR, na maioria meninas, coordenadas pela professora Rachel Reis, do Dinf, estiveram no Colégio Estadual Professor José Guimarães, em Curitiba, para mostrar a 240 alunos daquela escola, Giovana entre eles, que computação não é um bicho de sete cabeças, e que pode até ser divertida, além de ser um espaço para mulheres tanto quanto para meninos. “Ficou menos chato”, brincou a aluna.

A data não foi escolhida ao acaso, pois 8 de outubro é quando a comunidade científica celebra o Dia Ada Lovelace, para homenagear a primeira mulher programadora da história. A data começou a ser comemorada internacionalmente há 15 anos, em 2009, por iniciativa da ativista Suw Charman-Anderson, para destacar as conquistas das mulheres nas áreas da ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM, na sigla em inglês).

Nove salas de aulas e dinâmicas práticas de computação: “foi muito legal!”

Na capital do Paraná, durante a manhã do último dia 8, divididas em nove salas de aula, as equipes da Concat Gurias mostraram conceitos de computação na prática para os estudantes do colégio, do código binário à otimização de processos, simulando algoritmos e outros conceitos de programação, inspirados nos trabalhos pioneiros de Ada Lovelace e de Grace Hopper (linguagem de programação), Hedy Lamarr (comunicação Wi-Fi), Joan Clarke (criptografia) e Margaret Hamilton (Programa Apollo da NASA). 


“Foi muito legal!”, comemorou Nadia Lobkov, estudante de Ciência da Computação na UFPR, e uma das integrantes do projeto Concat Gurias. “Os alunos ficaram interessados e o tempo passou muito rápido. Nós contamos a história da Ada e fizemos uma dinâmica sobre algoritmos, porque não precisa de computador para isso. Exigimos que dessem os passos detalhados, para que a gente levantasse de uma cadeira, andasse até a mochila e tomasse água. Eles conseguiram! Foi muito legal”, disse.

A princípio na defensiva, até a diretora do colégio, Maria Lúcia Fagundes Rosseto, 67 anos, no cargo desde 2002, estava sorrindo no final de manhã. “Os alunos parece que gostaram, hein? Ninguém veio reclamar pra mim até agora”, brincou. “É um acontecimento diferente no cotidiano da escola, que é muito importante para os alunos, pois aqui o ensino é integral. Os jovens vivenciam muito isso, de computadores, ficam no celular o tempo todo, eu até me preocupo do tanto que eles gostam [desse mundo]. Essa atividade devia acontecer mais vezes”, pediu.

Professoras tiveram a ideia e acharam as Concat Gurias no Instagram

Duas professoras do Colégio José Guimarães juntaram-se para trazer à realidade a ideia de comemorar o Dia Ada Lovelace na escola. Começou com Ana Luiza Mendes, professora de História, que em um curso de literatura descobriu que a primeira programadora mulher era filha do poeta Lord Byron. “Meu Deus! Por que a gente conhece ele e não conhece a Ada?! Dai eu saí fazendo minhas pesquisas e descobri que o dia 8 de outubro é dedicado a ela e que a data se tornou também o Dia das Meninas na Ciência. Eu estava tensa com as dinâmicas de hoje, porque, lidar com adolescentes é uma incógnita, mas eles estão interessados, está sendo ótimo”, comemorou. 

Ana Mendes uniu-se a Luana Barbosa, professora de Desenvolvimento de Sistemas, pedindo que ela a ajudasse a desenvolver a atividade. “Eu estava procurando [alguém para vir aqui] e vi as Concat Gurias no Instagram. Fiz o contato e fiquei surpresa com a velocidade da resposta. Em uma semana, marcamos uma reunião e a gente fechou a atividade para o Dia Ada Lovelace”, confirmou. Durante a manhã, a cada 20 minutos, grupos de estudantes trocavam de sala, para vivenciar alguma das dinâmicas que as Concat Gurias prepararam.

A manhã especial terminou com uma atividade coletiva, reunindo as turmas de Ensino Médio para ouvir a coordenadora da Concat Gurias, Rachel Reis, no pátio da escola. Ela mostrou os cursos de Ciência da Computação e de Informática Biomédica, entre os mais concorridos da UFPR, e fez um convite especial, inspirada pela padroeira da data. “Eu não sei se vocês sabem, apesar daqui a gente ter um monte de meninas, mas, anualmente, se ingressam 80 meninos nos cursos [de Informática] da UFPR, entram só 10 meninas. Nossa proposta é mostrar para vocês que computação também é coisa de menina”, reiterou.