Projeto multidisciplinar entre Laboratório Visão, Robótica e Imagem (VRI), Dinf e Departamento de Medicina cria solução open-source para promover autonomia e bem-estar da população idosa

O Brasil tem 33 milhões de idosos, segundo dados do IBGE. Nas últimas duas décadas, a população com 60 anos ou mais duplicou, passando de uma proporção de idosos na população brasileira de 8,7% para 15,6%. Os dados evidenciam um rápido envelhecimento do país. Nesse contexto, pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) desenvolveram o Lucas, um assistente virtual open-source pensado para apoiar idosos em suas rotinas. O artigo de apresentação do desenvolvimento do foi aprovado para apresentação no BRACIS 2025. O evento, um dos mais importantes do cenário nacional para debater Inteligência Artificial e Computacional, será realizado entre os dias 6 a 9 de outubro, em Salvador, Bahia.

O desenvolvimento do Lucas é resultado da colaboração entre o Laboratório Visão, Robótica e Imagem (VRI), o Departamento de Informática (Dinf) e o Departamento de Medicina da UFPR. O trabalho sobre o desenvolvimento do Lucas é assinado pela equipe formada pela estudante de Ciência da Computação Luize Duarte, pelo estudante de Informática Biomédica Luan Matheus Trindade Dalmazo, sob orientação do pesquisador dos laboratórios Visão, Robótica e Imagem (VRI) e Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL), Eduardo Todt, e do professor do departamento de medicina da UFPR, Vitor Last Pintarelli.

O Lucas foi desenvolvido para ser acessível e adaptado à realidade brasileira. Ele integra tecnologias como ROS 2, transcrição de voz com Whisper, compreensão de linguagem natural via LLaMA 3 e síntese de fala em português brasileiro. A ativação ocorre por comando de voz (“Opa Lucas”), e o sistema executa tarefas como lembretes, consulta à temperatura e respostas a dúvidas gerais. O assistente identifica o usuário pela voz e apresenta respostas por áudio e legendas de alto contraste.

“O Lucas é um assistente que a gente construiu voltado para suporte a idosos. Ele foi desenvolvido para compreender comandos em português, e realizar um conjunto de tarefas específicas, como a busca por temperatura, qual a temperatura da cidade, também auxílio em lembretes, e tarefas gerais, como conhecimento gerais, para tirar dúvidas e tudo mais. Atualmente ele está funcional, e já usamos ele em um robô do departamento. O objetivo na continuidade da pesquisa é fazer com que o robô realize comandos de locomoção a partir do uso do Lucas”, afirma Luan Trindade.

O sistema é modular, permitindo personalização e fácil atualização de funcionalidades. Outro aspecto é que Lucas foi desenvolvido em open-source, e seu código-fonte está disponível publicamente, incentivando a adoção e evolução da ferramenta por outros pesquisadores e desenvolvedores. A abordagem permite que qualquer pessoa acesse o código-fonte, personalize funcionalidades e adapte o sistema às suas necessidades, além de assegurar o domínio da tecnologia e a proteção de dados dos usuários. Para o orientador do projeto, Eduardo Todt, a pesquisa realizada no desenvolvimento do Lucas prioriza a autonomia tecnológica e a inclusão digital. “As ferramentas open-source foram escolhidas pois permitem a replicação fácil por outros grupos de pesquisa e desenvolvimento interessados no projeto, bem como asseguram o domínio completo da tecnologia, resguardando a soberania no que se refere ao conhecimento e proteção de dados”, explica Eduardo Todt.

O desenvolvimento enfrentou desafios, especialmente na busca por ferramentas gratuitas e eficazes para o português, já que a maioria das soluções disponíveis é voltada ao inglês e muitas são pagas. “As ferramentas pagas apresentam maior poder de processamento e rapidez. Assim, as alternativas de ferramentas gratuitas implicam em um cenário um pouco limitado. Contudo, a partir da pesquisa e testagem, conseguimos uma solução muito satisfatória. Outro desafio é a necessidade de alto rendimento no processamento. Para solucionar este problema, projetamos o assistente para ser modular, e com isso facilitar o processamento”, detalha Luan Trindade.

O Lucas foi avaliado tecnicamente e por um especialista em geriatria, que recomendou adaptações como a adoção de uma persona jovem e legendas de alto contraste. Como o é modular, isso permite personalização e expansão. A equipe responsável pelo desenvolvimento do Lucas destaca que o principal objetivo do assistente virtual é ampliar a autonomia dos usuários idosos, facilitando o acesso a informações e o gerenciamento de tarefas cotidianas. Segundo Luan Trindade, um dos desenvolvedores do projeto, a preocupação com a usabilidade e a comunicação acessível esteve presente em todas as etapas do desenvolvimento, buscando garantir que o sistema seja realmente útil e adaptado ao público-alvo.

“Creio que a principal contribuição do Lucas é auxiliar na questão da autonomia dos usuários. Ou seja, no fato de ele poder contribuir buscando informações rápidas, auxiliando com tarefas rotineiras de maneira eficiente e customizável. A gente entende que, óbvio, tem um limitante também de que para realizar a instalação do Lucas precisa de alguém que saiba mexer com tecnologia. Mas o funcionamento do Lucas, a interação com o Lucas não depende de alguém que tem conhecimento de tecnologia. Então, acho que isso é um ponto importante. A gente o fez com as instruções voltadas para o público idoso, ou seja, é preciso considerar a escolha da linguagem, evitando palavras muito técnicas, explicando de forma didática e simpática. Ele foi todo pensado para ter esse amparo nesse sentido”, conclui Luan Trindade.