Panorama elenca como temas para o decênio 2025/35 os impactos socioambientais, novas abordagens metodológicas e necessária decolonização nos estudos de IHC
A necessidade de uma abordagem crítica e inovadora para lidar com as complexidades sociais e tecnológicas é um dos desafios que se desenha para os próximos dez anos de pesquisa sobre Interação Humano-Computador (IHC) no Brasil. Isto é o que projeta o artigo produzido pelo coordenador do PPGInf da UFPR, Roberto Pereira, que dá o pontapé para debater o cenário da pesquisa em IHC para o decênio durante a XXIII edição do Simpósio Brasileiro sobre Fatores Humanos em Sistemas Computacionais (IHC). O principal evento latinoamericano sobre os estudos de interação entre usuários e sistemas computacionais será realizado em Brasília, entre os dias 7 e 11 de outubro.
Intitulado “GranDIHC-BR: Grandes Desafios de Pesquisa em Interação Humano-Computador no Brasil para 2025-2035”, o estudo é uma provocação para que a comunidade científica possa se debruçar sobre o tema e projetar os eixos que guiarão os estudos na área no Brasil. O panorama é resultado dos debates sobre Grandes Desafios, realizados ao longo deste ano sobre a área, iniciados em fevereiro deste ano pela Sociedade Brasileira de Computação (SBC), entidade que encabeça os eventos sobre IHC no país. Como “grande desafio”, os autores entendem um problema focado em ciência, tecnologia e educação, cujas soluções têm amplas aplicações e implicações, permitindo avanços no conhecimento, desenvolvimento social, crescimento econômico, inovação, bem-estar humanos e sustentabilidade.
O documento que resume os principais pontos do debate apresenta sete desafios para a área, e foi escrito em parceria com as pesquisadoras Ticianne Darin, da Universidade Federal do Ceará, e Milene Selbach Silveira, da PUC-RS. Esses sete desafios surgiram do trabalho colaborativo de mais de 50 profissionais da área de IHC, de todas as regiões do país.
Uma primeira preocupação indicada no documento que será apresentado pelos autores no evento em outubro é a necessidade de novas abordagens teóricas e metodológicas para IHC. Segundo os pesquisadores, este é um dos principais desafios para o decênio, na medida em que resulta em revisitar o arcabouço teórico da área, buscando estabelecer uma integração com outras disciplinas como como antropologia, psicologia e design, com o objetivo de enriquecer a compreensão da interação humano-computador.
A ética e a responsabilidade nas pesquisas em IHC integram o segundo aspecto destacado nos debates como desafios para 2025/35, percebendo-os como centrais à pesquisa. Neste eixo, a preocupação é observar as implicações das tecnologias na sociedade, buscando promover um debate que valorize o potencial da IHC na contribuição para a justiça social e formação de políticas públicas. Percebendo a pluralidade de vozes necessárias aos estudos sobre IHC, os autores reforçam a necessidade de promoção da decolonização nas pesquisas, fomentando a valorização e diversidade cultural e social do país, e propondo temas que reconheçam a transversalidade nas questões de gênero, raça e classe.
A preocupação com os impactos da tecnologia nas interações sociais e culturais compõe o rol de desafios para o decênio. Desta forma, os pesquisadores destacam a necessidade de compreensão sobre como a tecnologia afeta positivamente negativamente a qualidade de vida das pessoas. O foco é orientar que o design de tecnologias respeite e promova a diversidade cultural. Neste ponto, destacam-se também as formas de interação humano-dados. Aqui, os desafios que se desenham na área de IHC reside em observar questões como privacidade, consentimento e confiança, exigindo uma base teórica robusta que considere a natureza sociotécnica dos dados. Assim, as pesquisas na área devem focar em como garantir que as interações com dados sejam transparentes e éticas.
A inteligência artificial também é eixo de atenção dos pesquisadores para orientação das pesquisas em IHC, reconhecendo as novas questões advindas das implicações da IA para a área. Por fim, fechando a lista de desafios para os próximos dez anos, o estudo a ser apresentado no XXII simpósio de IHC da SBC aponta a importância da interação com tecnologias emergentes, como realidade aumentada e interfaces cérebro-computador. Neste aspecto, o desafio é buscar inovações que melhoram a qualidade de interação humana com as tecnologias. Com tais dimensões como guia para a pesquisa em IHC, busca-se uma reflexão sobre a pesquisa, ensino e prática, entendendo que elas devem ser contextualizadas de forma socialmente responsável no cenário que vivemos, ajudando a avançar a nossa capacidade de melhorar a vida e a experiência humana por meio de tecnologias computacionais interativas.
Além do artigo documentando o trabalho colaborativo que resultou nesses sete grandes desafios, outros sete artigos assinados por pesquisadores de todo o país serão publicados apresentando em detalhe cada grande desafio identificado.